Fone de ouvido pode causar surdez?
Sim. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), 50% da população de jovens, entre os 12 e os 35 anos de idade, está sujeita a desenvolver problemas auditivos por conta da exposição prolongada aos fones de ouvido. Mesmo que a audição seja um dos nossos sentidos mais utilizados, muitas vezes, a saúde auditiva é deixada de lado e as pessoas só procuram ajuda quando o problema está avançado.
A audição é uma combinação de interações nas quais os ouvidos convertem ondas sonoras em sinais que podem ser captados pelo cérebro. Essas ondas passam pelo canal auditivo até chegarem aos tímpanos, que fazem diversas vibrações e movimentações, passam pelas células sensoriais e chegam até o cérebro. O nosso aparelho auditivo é subdividido em ouvido externo, ouvido médio e ouvido in- terno. A primeira parte tem como função principal recolher e iniciar o processo de encaminhar as ondas sonoras para o tímpano. O ouvido médio segue mantendo esse fluxo, e já o ouvido interno é o principal responsável pela capacidade de entender e diferenciar os sons.
Naturalmente, por volta dos 40 anos, as pessoas começam a perder a capacidade de ou- vir, como explica a médica otorrinolaringologista Ana Elizabeth Santana. “Todas as faixas etárias são suscetíveis à perda auditiva. Porém, a idade avançada pode causar um tipo de perda auditiva provocada pelo envelheci- mento”, conta. Esse processo pode acabar sendo acelerado pela exposição prolongada a sons e ruídos mais altos do que a capacidade suportada pelo nosso ouvido. No entanto, além do fator tempo, a perda de audição pode ser causada ainda por infecções (como as otites), ferimentos na cabeça, tratamentos contra o câncer, doenças hereditárias ou até mesmo a utilização de certos medicamentos.
De acordo com Dra. Ana Elizabeth Santana, alguns sintomas da perda de audição podem aparecer de forma leve antes do problema ser detectado. “Sintomas como redução da capacidade auditiva principalmente em ambientes ruidosos, como lugares públicos, necessidade de aumentar o volume de rádio e TV, dificuldade para ouvir ao telefone, necessidade de pedir para as pessoas repetirem as sentenças faladas constantemente, presença de zumbido, intolerância a sons altos e tontura também podem ser observados”, explica a otorrinolaringologista. Após o aparecimento dos primeiros sintomas, o recomendado é procurar um médico especialista, para que o problema não evolua para uma surdez não reversível.
Existem ainda três tipos de surdez: condutiva, mista e neurossensorial. A surdez condutiva acontece quando alguma coisa bloqueia a passagem do som da orelha externa até a orelha interna. São diversas causas que podem levar a essa condição, como o rompimento do tímpano, o excesso de cera que se acumula no canal auditivo ou até mesmo quando algum objeto estranho é induzido ou se aloja no canal auditivo. Já a surdez mista é aquela causada pelo envelhecimento, no caso, a presbiacusia, que possui vários tipos. Por fim, a surdez neurossensorial, que raramente tem tratamento e ocorre quando há alguma lesão nas células nervosas e sensoriais que levam as vibrações sonoras até o cérebro.
Alguns tipos de surdez têm tratamento e, em diversos casos, se for feito em estágio inicial e de forma adequada, pode restabelecer a audição do paciente. Entre os tratamentos estão cirurgias e a retirada daquilo que está bloque- ando o canal auditivo. Se o problema foi causado pela exposição prolongada a volumes altos, o paciente pode contar com tratamentos mais simples, como explica a otorrinolaringologista. “Os cuidados passam a ser evitar a progressão. O tratamento consiste em reabilitação auditiva com aparelhos de amplificação sonora”, diz a Dra. Ana Elizabeth Santana.
Mas, qual é a maneira mais indicada para ouvir música e evitar problemas auditivos? Quando o som é canalizado diretamente para os ouvi- dos, os fones melhoram a qualidade do som e permitem que as pessoas escutem a música de forma mais nítida e detalhada. Entretanto, os limites de volume aceitáveis variam, mas ficam entre 35 e 60 decibéis. O nível máximo que um ser humanos costuma suportar é até 85 decibéis, por oito horas.
Dra. Ana Elizabeth Santana dá uma dica: o som não pode estar alto ao ponto de não se ouvir o que está a sua volta. Além disso, dormir com o fone no ouvido também não é recomendado. “Não há, no Brasil, nenhuma regulamentação para os níveis de pressão sonora em atividades de lazer, portanto, seguimos a Norma Regulamentadora 15 que estipula o máximo de 85 dB para uma exposição de oito horas diárias ao ruído contínuo ou intermitente. Um nível seguro seria no máximo 80 dB, cerca de metade da intensidade máxima dos fones. Se ocorreu de utilizar o fone acima do volume aconselhável em circunstância isolada, passar algumas horas sem utilizá-lo para que haja recuperação das células responsáveis pela audição.”, conclui a médica.

